Jesus respondeu: — “Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma e com toda a mente.
Este é o maior mandamento e o mais importante. E o segundo mais importante é parecido com o primeiro: Ame os outros como você ama a você mesmo.”
(Mt 22.37- 39)
BRASIL: “O PAÍS DA CACHAÇA.”

Surpreendemo-nos tempos atrás com o texto de uma revista de grande circulação que dizia: “O governo e os produtores de cachaça já encomendaram uma pesquisa, a um instituto inglês, acerca da receptividade à bebida na Europa. Também pediram o reconhecimento internacional de que a cachaça é produto brasileiro, e de ninguém mais. E espalharão a receita da caipirinha aos quatro ventos.” O articulista da revista comentou ainda que se a caipirinha virar moda, o Brasil poderá acelerar as exportações e tornar-se conhecido como o país não só do futebol como também da cachaça.
Este “maravilhoso” título viria realmente a calhar, pois se juntaria a outros que já temos tão “nobres” quanto o de País da Cachaça. Por exemplo: Brasil – País da Prostituição de Menores; Brasil – País do Carnaval; Brasil – País dos Sequestros Relâmpagos; Brasil – País dos Corruptos; Brasil – País da Impunidade; Brasil – País dos Menores Abandonados; Brasil – País das Chacinas; Brasil – País dos Assaltos; e Brasil – País do Mensalão, entre outros.
Nosso belo país não merece nenhum dos títulos acima e muito menos o de País da Cachaça. Entretanto, a justificativa do esforço governamental em utilizar a máquina administrativa para a divulgação da caipirinha é a necessidade de gerar receitas para cumprir os compromissos financeiros internacionais assumidos com o Fundo Monetário Internacional. Outra justificativa seria que quanto mais exportarmos mais empregos geramos, além de mantermos os existentes, beneficiando os brasileiros. Em consequência diminuiremos a miséria que alastra por nosso imenso país.
Verdadeiramente a geração de emprego com as exportações permitirá melhorar a vida de nossos concidadãos, e podemos considerá-la uma beneficência própria extraordinária, pois contribuirá para diminuir a fome de muitos brasileiros, tirá-los das ruas e dar-lhes uma vida digna. Mas, gerar empregos exportando cachaça também seria?
Será que todo amor é próprio? Não entendemos assim. Salvar vidas representa uma beneficência própria, necessária e útil, mas o recurso oriundo do tráfico de drogas deveria ser utilizado para construir hospitais? A educação é uma beneficência própria, mas a obtenção de recursos oriundos dos sequestros relâmpagos deveria ser utilizada para a construção de escolas? Livrar um indivíduo de dores insuportáveis é uma beneficência própria, mas através da Eutanásia também seria?
Parece-nos que estamos perdendo um pouco a noção. Nem tudo que parece ser próprio o é efetivamente. Travestido de bom, de caridoso, de amoroso, de beneficente estamos engolindo uma série de manifestações de amor, impróprias. Infelizmente o que importa para a sociedade atual é o agora, o hoje e o ter. As consequências desse absurdo desejo de ter não são pensadas. Hoje se recorre a quaisquer expedientes para ter, inclusive incentivar o consumo de cachaça.
Enquanto os produtores de cachaça parecem cada vez mais nobres, elegantes e ricos, muitos consumidores de cachaça estão caindo pelas ruas, bêbados, trocando as pernas e sendo motivo de zombarias, quando não de agressões. Seria esta a imagem e semelhança que Deus propôs para o homem? Gn 1.26
A cachaça torna seu consumidor valente, ele perde o medo. Briga nas ruas, nos bares, nas rodas de alta e baixa sociedade. A cachaça e sua indução à valentia são causa de muitas mortes. Ela é também a causa de doenças e acidentes que levam à morte. Ela leva muitos lares à destruição, famílias inteiras ao desespero e lágrimas pelo o pai que não volta para casa. Ela acaba com bons empregos e bons empregados. Ela alimenta o aumento de uma multidão de crianças com fome. Quanta miséria a cachaça pode trazer.
No campo espiritual a bebida alcoólica traz uma série de problemas. Todos sabemos que a bebida forte é alvoroçadora (Pv 20.1) e que ela tira de nós a inibição e muitas vezes a vergonha. A embriaguez é pecado condenado pelas escrituras. O texto bíblico diz: “…não vos enganeis: nem impuros, … nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, herdarão o reino dos céus” (1 Co 6.9-10); e “Ora, as obras da carne são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias, e cousas semelhantes a esta, a respeito das quais eu vos declaro, como já outrora preveni, que não herdarão o reino dos céus” (Gl 5.19-21).
Devemos contribuir para que as pessoas se destruam, destruam suas famílias, percam seus empregos, matem, morram, pequem e percam as suas vidas eternas? Vender cachaça para aumentar o emprego é uma tremenda impropriedade, é cultivar um amor impróprio que todos conhecemos os seus efeitos sobre o ser humano.
Caros amigos lembrem-se das palavras de Isaías: “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva” (Isaías 8.20). Identificada uma impropriedade devemos como profetas verdadeiros de Deus alertar sobre o erro que se está cometendo. Para fazermos uma caridade nem sempre vale tudo. Os fins, caros amigos, nem sempre justificam os meios. Existem certos tipos de uso do amor que são impróprios. Estes não devemos aprovar, mas denunciá-los.
Como podemos manifestar amor a Deus de todo coração e entendimento se estivermos embriagados? Como podemos demonstrar nosso amor ao próximo se estivermos bêbados?
Queridos, temos noção. Portanto, não vamos compactuar com aquilo que pode trazer miséria e infelicidade para as nossas famílias, a dos outros, nossa igreja e sociedade, ainda que travestidos de amor.
Com carinho,
Rev. Pedro Neves
